Rio Muriaé e sua importância histórica para o Noroeste Fluminense.
Não dá para separar a história do Noroeste Fluminense da história do Rio Muriaé que corta a maior cidade da região e muito provavelmente foi através dele que se deu o processo de conquistas dessas terras pelos portugueses antes ocupadas pelos povos indígenas que habitavam a área. Primeiramente vamos conhecer alguns dados sobre o esse Rio.
Dados geográficos:
O Rio Muriaé nasce na Serra das Perobas a cerca de 300 metros de altitude no Município de Miraí Estado de Minas Gerais sendo que, para muitos, ele nasce da confluência de dois ribeirões: o Samambaia e o Bonsucesso ambos com nascente na mesma serra há algumas centenas de metros do local em que se encontram. A extensão do rio da nascente até a foz no encontro com o Rio Paraíba do Sul a cerca de 9 Km de Campos dos Goytacazes é de 295 km. Portanto, o rio Muriaé tem sua foz no rio Paraíba do Sul sendo um afluente da margem esquerda deste rio. O Muriaé também possui alguns afluentes ( Fubá, Preto, Glória, Gavião e Carangola) e banha 8 municípios: Miraí (MG), Muriaé (MG), Patrocínio do Muriaé (MG), Laje do Muriaé (RJ), Itaperuna (RJ), Italva (RJ), Cardoso Moreira (RJ) e Campos dos Goytacazes (RJ).
Podemos perceber que a sua bacia hidrográfica (conjunto de terras que fazem a drenagem da água das precipitações para esse curso de água e seus afluentes) é extensa, corta dois estados, Minas Gerais e Rio de Janeiro, atravessa inúmeras cidades, duas delas, Muriaé e Itaperuna, de médio porte e infelizmente, como ocorre em outros rios Brasil afora, sofre todo tipo de degradação, seja com a falta de mata ciliar (vegetação que ocorre nas margens de rios e mananciais) que deu lugar a pastagens, seja com o lançamento indiscriminado de todo tipo de esgoto (Industrial e doméstico) pelas cidades por onde passa. O irônico é que a população dessas cidades precisam usar a água do próprio Rio para consumo, é claro que existe todo um processo de tratamento pelas companhias de água antes da distribuição para a população, mais talvez fosse mais “inteligente” poluir menos o rio, já que ficaria mais fácil tratar a água e daria maior segurança a população! Isso sem fala no impacto ambiental que tal atitude vem causando na fauna e flora do Rio.
Bom, voltando no tempo, ao século XIX provavelmente sem a interferência humana esse rio era limpo e fornecia a população muitas espécies de peixes que serviram para matar a fome dos desbravadores. Hoje se alguém depender do rio para comer corre o risco de morrer de fome ou de algum tipo de contaminação! Um fato interessante é que foi através dele que teve início o processo de povoamento da região, pois era utilizado como meio de transporte para pessoas e escoamento de mercadorias em direção ao litoral. Naquela época não existiam estradas, como na Amazônia de hoje, as estradas eram os rios e o Rio Muriaé não possui grande inclinação, percorre grande parte de sua extensão em planícies, apresentando pequenos pontos de corredeiras que podiam ser superados por pequenas embarcações. Muitas povoações surgiram em suas margens e algumas delas provavelmente deram início às cidades atuais. Não é por acaso que as cidades de hoje se encontram em suas margens e é analisando o processo histórico que se pode chegar a essa constatação. Em meados do século XIX teve início à cultura do café que trouxe riqueza e ao mesmo tempo os primeiros problemas ambientais com a destruição da floresta para dar lugar as lavouras, um pouco mais tarde a construção da ferrovia, que segue as margens do rio, e estradas substituíram o transporte hidroviário. Com o fim da expansão cafeeira em 1930 e início da agropecuária o processo de desmatamento continuou até chegar ao cenário atual onde menos de 3% da floresta original sobreviveu segundo a fundação SOS Mata Atlântica.
MARCELO LESSA
Após todos esses anos de enorme modificação no ambiente da região o rio foi quem mais sofreu e continua sofrendo as conseguências, mas ironicamente não é só o rio que está sofrendo os moradores também sofrem com as cheias que nos últimos anos tem se tornado freqüente. Esse ano de 2009 tivemos, talvez, a maior enchente de todos os tempos na região desalojando moradores das cidades banhadas pelo Rio Muriaé. Seria culpa somente do aquecimento global? Seria culpa de um processo de interferência humana ao longo dos séculos na região banhada pelo rio? Seria o conjunto de ambas? Enfim, fica as perguntas para reflexão.
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